O que é educação? Essa é uma pergunta que poucos de nós fazemos, talvez por
achar que já sabemos a resposta.
A família, o Estado, as religiões, por séculos têm "educado" seus membros.
Conhecimentos e técnicas são ensinados, crenças são
inculcadas, conteúdos emocionais são incorporados, influências de todos os
tipos são passadas às mentes dos jovens. E tudo isso chama-se Educação.
No aspecto técnico, com maior ou menor eficiência, as escolas vão
capacitando o jovem para uma carreira, onde a experiência profissional - se
houver - fixará o aprendido e anexará novos conteúdos às suas
habilidades.
Nos cursos especificos, isolamos alguns segmentos do imenso acervo cultural
humano, por exemplo: as disciplinas ligadas à Informática, e
concentramos em cima do aluno uma carga de conhecimentos técnicos, visando
dotá-lo de uma tecnologia capaz de permitir seu acesso ao emprego.
Nesse particular, é de se ver a ansiedade do treinando, que, pressionado pela
feroz competição do mercado de trabalho, deseja aprender rapidamente "como
usar" as coisas, mesmo em prejuízo de um aprofundamento teórico nas
matérias. Como ele quer chegar logo aos resultados, dominar os pacotes de
utilitários e as linguagens de programação para microcomputadores, fazer
páginas para a Internet!
Assim também na Matemática, onde geralmente não há um interesse na coisa em si
— a beleza e o significado dos conceitos e idéias —, o enfoque costuma
ser imediatista, com ênfase na aplicação de fórmulas, visando a resolver
problemas.
A Educação assim praticada não se interessa pelo ser humano integral que está à
nossa frente. Trata-se de despejar conteúdos, cumprir programações curriculares
e atingir metas. Tudo, ou quase tudo, tende a se transformar em "um meio
para um fim". E isso também costuma ser chamado... Educação.
Na era da Tecnologia, as coisas utilitárias adquirem papel preponderante, e
assim não há tempo nem espaço apropriado para a reflexão pura, a apreciação da
natureza como parte dela, nem para a descoberta do novo, sem
preocupação com aplicações.
No contexto familiar, a educação inclui a assimilação compulsória dos valores
e tradições familiares; no âmbito religioso, quantas velhas crenças são
impostas como coisas novas para as crianças de todo o mundo! E elas não têm
opção senão aceitar tudo. E a violência assim praticada, a poder de recompensas
e castigos, também se chama... Educação!
Será talvez pela falta de beleza de tudo isso que Fernando Pessoa escreveu:
...
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
...
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Tabacaria - Álvaro de
Campos (Fernando Pessoa)
Parece haver algo errado com a Educação assim concebida e praticada. Ela
não nos educa para a felicidade nem a liberdade, e sim para reproduzir,
com modificações, o mesmo modelo de sempre, com novas roupagens.
E uma das maiores premissas desse modelo baseia-se na suposição de que o bebê,
a criança e o jovem são a continuidade modificada de nós mesmos, e portanto
devem receber nossos valores e nossa visão de mundo.
É assim que a sociedade vai reproduzindo a si mesma, gerando seres totalmente
tragados pela imersão no velho mundo mental onde foram submersos desde a
infância. Qualquer semelhança com a Caverna de
Platão não será mera coincidência...
Então eu quero indagar: haverá outra forma de Educação, onde educar não seja
meramente moldar o ser humano, adicionando-lhe, sobre os hábitos
saudáveis e os conteúdos técnicos necessários a sobrevivência, inúmeros fatores
condicionantes, de natureza psicológica, religiosa ou emocional? E que não seja
também um movimento de reação a tudo isso?
Sim; haverá uma Educação que privilegie fundamentalmente o despertar da
Inteligência, como qualidade desconhecida e não pertencente aos
conteúdos ensinados em nenhum lugar?
Talvez então possamos dizer, como Nietzsche:
...quando eu era jovem, dizia comigo "como é preciso pouco
para ser feliz!"
Hoje, porém, vejo como blasfemei:
não é preciso absolutamente nada para ser feliz!...
(Assim
Falava Zaratrustra - Frederich Nietzsche)
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